Publicado originalmente no site da Folha de S.Paulo, em 19 de dezembro 2017
Barroso diz que ele e Gilmar têm ‘diferentes visões da vida
e do país’
O ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal
Federal), rebateu nesta terça-feira (19) as críticas do colega Gilmar Mendes
sobre a condução das investigações da Lava Jato pela PGR (Procuradoria-Geral da
República) e disse que eles têm “diferentes visões da vida e do país”.
Reprodução
“Não acho que há uma investigação irresponsável. Há um país
que se perdeu pelo caminho e naturalizou as coisas erradas”, afirmou.
Na última sessão do STF em 2017, os ministros julgam
recursos dos investigados nas ações que envolvem o presidente Michel Temer. Os
alvos da PGR pedem para que as investigações sejam sobrestadas, assim como as
duas denúncias apresentadas contra o presidente da República, que foram
barradas pelos deputados federais.
Gilmar interrompeu o voto do colega Dias Toffoli para
criticar a condução do ex-procurador-geral Rodrigo Janot na Lava Jato. Ele e
Janot protagonizaram diversos embates públicos ao longo dos últimos dois anos.
Gilmar disse que o STF se depara agora com “o que é o peso
de um trabalho mal feito”, o qual classificou de “precipitado”, “sem análise” e
que “causa esse tipo de constrangimento” para o tribunal. Com o voto de Gilmar,
a segunda turma do STF livrou nesta segunda-feira (18) quatro políticos
denunciados por Janot na Lava Jato e seus desdobramentos de virarem réus no
Supremo.
“Ontem decidimos vários casos que com base em delação não
poderia se oferecer a denúncia. O que é importante é que o relato era
totalmente falso”, disse Gilmar.
Segundo ele, há um sentimento “Janotista”.
“Esse era o trabalho que se fazia. Trabalho mal feito.
Acabamos de ver a policia federal. o delegado da Polícia Federal dizer trabalho
mal feito”, afirmou, em referência aos relatórios da PF que não sugerem
indiciamento de políticos por não encontrarem indícios de autoria e
materialidade dos crimes.
Durante as críticas, o ministro usou as expressões “grande
patifaria”, “grande erro” e “populismo criminal judicial” e “serviço malfeito,
corta e cola”.
“Erros graves que temos cometido. A história não vai nos
poupar.”
“Há diferentes formas de ver a vida e todas merecem
consideração e respeito. Eu gostaria de dizer que eu ouvi o áudio ‘Tem que
manter isso aí, viu’. Eu quero dizer que eu vi a fita, eu vi a mala de
dinheiro, vi a corridinha na televisão”, afirmou, em referência ao momento em
que um vídeo feito pela PF mostra o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures pega uma
mala de dinheiro entregue pela JBS e sai correndo em frente a uma pizzaria em
São Paulo.
Ele acrescentou que leu os depoimentos de delatores da Lava
Jato, como os do doleiro Alberto Youssef e do corretor de valores Lúcio Funaro,
que incriminaram dezenas de políticos.
“Vivemos uma tragédia brasileira, a tragédia da corrupção
que se espalhou de alto a baixo sem cerimônia. Um país em que o modo de fazer
política e negócios funciona assim: o agente político relevante escolhe o
diretor da estatal ou ministro com cotas de arrecadação. E o diretor da estatal
contrata em licitação fraudada a empresa que vai superfaturar a obra ou o
contrato público para depois distribuir dinheiros.
Aí não faz diferença se foi para o bolso ou se foi para a
campanha, porque o problema não é para onde vai [o dinheiro], mas de onde vem”,
afirmou.
Barroso disse ainda que “a cultura de desonestidade que se
cria de alto a baixo com maus exemplos em que todo mundo quer levar vantagem,
todo mundo quer passar os outros para trás, todo mundo quer conseguir o seu,
sem mencionar as propinas para financiamento, tudo documentado”.
E então defendeu a condução de Janot na Lava Jato.
“São diferentes visões da vida e do país. Não acho que há
uma investigação irresponsável. Há um país que se perdeu pelo caminho,
naturalizou as coisas erradas, e temos o dever de enfrentar isso e de fazer um
novo país, de ensinar as novas gerações de que vale a pena fazer honesto, sem
punitivismo, sem vingadores mascarados, mas também sem achar que ricos
criminosos têm imunidade. Porque não têm. Tem que tratar o menino pego com cem
gramas de maconha da mesma forma que se trata quem desvia milhões de reais.”
Fonte: Folhapress
Texto e imagens reproduzidos do site: oestadoce.com.br
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